sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Problemas geracionais


Nos últimos dias, os olhos de Portugal e do mundo têm incidido na Web Summit, que decorreu em Lisboa. Eu poderia vir de falar de tecnologia ou das noites de trânsito caótico devido ao evento, mas o que quero mesmo referir é o trabalho de voluntário de inúmeros jovens. Eu não sou velha do Restelo, não acho que é tudo "se eu estou aqui a dar o meu tempo, paguem-me". Mudam-se os tempos e as vontades têm de se adaptar...
Aliás, fui voluntária em vários eventos. O que me vem mais facilmente à memória é a Noite Europeia dos Investigadores. Em Portugal não há dinheiro para os investigadores em si, quanto mais para pessoas que estão a encaminhar pessoas num museu, num evento totalmente grátis! Na altura, encontrei um professor que perguntou se estávamos a ser pagos para o efeito... Ele "passou-se" quando disse que não, disse que não fazia sentido, que nunca o aceitaria. Mas a verdade é que há eventos assim, que não têm um grande financiamento (nem lucros) e que com o trabalho de jovens interessados (e inocentes! ahah) podem ser melhores.
No entanto, nada deste pensamento se aplica à categoria em que a Web Summit se insere. Estamos perante o maior evento de tecnologia do mundo... E a quantidade de gente (jovens, na sua maioria) que se submete a 4 dias de trabalho (mais ou menos) intensivo sem ser paga choca-me. Eu, há 2 ou 3 anos, se calhar pensaria o mesmo... "Que oportunidade fantástica, estar ali sem ter de pagar!!". É verdade, mas estás a prestar um serviço em que há orçamento para te pagar. Nem que fosse com base no ordenado mínimo, não estou a dizer para pagarem fortunas... Mas li uma notícia de um voluntário a dizer que, pelo trabalho que fazia, estava a ser pago a preço de ouro; outros a dizer que tinham tirado folga dos seus empregos para se voluntariarem... Mas estão doidos?
A nossa geração é totalmente explorada e, em vez de queixas e revoltas, tudo é visto como "uma grande oportunidade". Seja pelo trabalho voluntário que enriquece o currículo, seja pela empresa que te paga 1000€ para trabalhares 60 horas semanais sem te queixares... Enfim. É daqueles ciclos viciosos (para o qual contribuo) que não sei como pode ser quebrado.

7 comentários:

Filipa Magalhães disse...

Subscrevo totalmente! Também li essa notícia que falava de que estavam a ser pagos "a preço de ouro" e não consegui compreender. Há voluntariado e há exploração de recursos humanos... e, sim, são mesmo duas coisas muiiiito diferentes...

Cláudia S. Reis disse...

Eu fiz voluntariado na biblioteca da minha faculdade (primeiro porque sempre gostei de bibliotecas e, depois, porque contava para o currículo) e fiz voluntariado numa creche para ter oportunidade de ganhar experiência sem ter que esperar pelos estágios. Em nenhum deles recebi. Foram experiências que enriqueceram o meu currículo mas que também não me matavam de cansaço.

Não sei se trabalharia tanto sem receber!

Partners in Crime disse...

É bem verdade. O voluntariado só faz sentido em associações que não têm financiamento para pagarem. É uma forma de ajudarmos.
Agora, fazer voluntariado numa grande empresa ou num grande evento, é exploração.
Um beijinho grande*
Novo blogue!
Man & Woman in Partners in Crime

Filipa Magalhães disse...

I., relativamente ao teu comentário no meu post: antes de mais, muito obrigado pelas boas-vindas!! *.* eu acho que me lembro do teu blogue..., o meu último cá na blogosfera foi o Wendy's Diary... Conhecias? :)

Marta Martins disse...

Gostei de conhecer o blog!
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Ana Rita disse...

São situações complicadas. Muitos não querem receber nada, querem ganhar a experiência, conhecer pessoas e até sair um pouco da sua zona de conforto. Realmente não é de todo justo estar 4 dias a trabalhar intensamente e não receber nada, mas ainda acontece muito...
Beijinho, Ana Rita*
BLOG: https://hannamargherita.blogspot.com/ || INSTAGRAM: @rititipi || FACEBOOK: https://www.facebook.com/margheritablog/

S* disse...

Acho que tinham direito a uma entrada o que, para um evento do género, é uma grande forma de pagamento...