O presente post não serve para me explicar, continua a servir como um desabafo. As minhas queridas leitoras mencionaram o lado emocional e financeiro da emigração... E isto fez-me reflectir, uma vez mais, no assunto. De certa forma, estão os dois um bocado ligados... Eu sei que não parece, mas passo a explicar.
Condição nenhuma financeira paga os momentos que, muitas vezes, perdemos com as nossas pessoas. O grande problema é que, muitas vezes, perdemo-las no próprio país. Como já referi, o mais importante para mim nem é o dinheiro (aliás, se fosse, estaria a limpar escadas na Suíça, porque se ganha quatro vezes mais do que como engenheira aqui!), é mesmo o facto de estar a fazer algo de que gosto. Dentro de Portugal, a única opção para trabalhar na minha área (não no que gosto mesmo, mas na minha área - o que já é bom) seria em Lisboa ou talvez no Porto, o que implicaria estar fora de casa.
"Mas é perto, podes ir ao fim-de-semana, é fazível". Será que posso? Tenho amigas da minha zona a trabalhar e viver em Lisboa que raramente vêm a casa porque o dinheiro não estica. Na semana passada, questionei uma delas sobre o facto de não vir votar, e ela disse-me que simplesmente não dava para gastar esse dinheiro. Depois de pagar casa, comida e transportes, pouco sobrava. Eu sei que no meu caso seria diferente, a minha mãe ajudar-me-ia... Mas o ponto não é passarmos a ser independentes? Isto revolta-me no nosso país.
Como estava a dizer, a parte emocional, no meu caso, está muito associada à parte financeira também. Sabem porquê? O que eu gostava mesmo mesmo era de pegar nas malas e atravessar o oceano. Nos Estados Unidos, há IMENSAS oportunidades dentro do que eu gostava de fazer. Mas, infelizmente, isso faria com que fosse impossível vir passar um fim-de-semana a casa... Ninguém quer pagar 800€ para tal, só em estadias longas é que faz sentido. Recentemente, preenchi o formulário de candidatura a duas vagas, uma em Boston, outra em Baltimore (penso). Antes de submeter, fechei a janela... Não consegui. O Skype e os telefonemas ajudam muito quando a diferença horária é de 1 ou 2 horas. Mais do que isso, não funciona... É melhor do que nada, claro que sim, mas não é bom.
Estas questões nem se levantam apenas por mim (que, indo sozinha, teria de passar pelas desvantagens que isso implica). Sou filha única, a minha mãe está "sozinha" e eu sinto esse peso. Os meus avós estão velhos e já não me resta assim tanto tempo com eles. Os meus primos estão a crescer e eu não acompanho. O meu namorado que, por muito que eu diga e aconteça que sou forte e independente, me custaria deixar noutro país a um nível incalculável. E os meus amigos... Ai, os meus amigos. De cada vez que vejo fotos, planos e coisas mais íntimas, só eu sei como me dói.
Por isso é que a Europa Central (não me interesso tanto pelo Norte e pelo Este, mas não está totalmente de parte) seria o meio termo que me permitiria fazer algo de que gosto e ter o estado emocional mais equilibrado. Possivelmente, o financeiro até ficaria pior no meio desta história toda... Gastar dinheiro para vir ao fim-de-semana a casa (de vez em quando, também não é sempre!) não ajuda à conta poupança :P Mas, da minha perspectiva, seria mais feliz.
2 comentários:
Tens razão, muitas vezes estamos perto mas não podemos aproveitar na mesma por falta de dinheiro. Jantares a que não se pode ir, viagens que não se fazem, distâncias curtas mas que ainda assim não podem ser feitas porque os carros não andam a ar... Mas havendo proximidade, dá-se sempre um jeito.
Mas não é isso que está em causa. A felicidade e realização pessoal e profissional é que estão em jogo aqui. Se eu fosse desprendida das pessoas, das minhas raízes, ia sem pensar. Mas não sou assim e o lado dos entraves é o que conta mais, na minha opinião. Por isso admiro tanto quem deixa tudo e vai em busca dos sonhos.
Li isto e senti um aperto no coração, porque sei exactamente aquilo que estás a sentir... a sensação de impotência, de revolta, de dar voltas e voltas à questão e nunca haver uma resposta clara.
Eu emigrei há mais de 3 anos. Nunca quis isso para mim, mas em Portugal estava simplesmente impossível. Trabalhava em Viseu e sou do Porto. Não é muito longe, mas eu não ganhava o suficiente para poder lá ir todos os fins-de-semana. Nem tinha tempo para isso, porque só tinha folga ao domingo. Estava exausta, física e psicologicamente, e o dinheiro que ganhava não era suficiente para justificar os meus sacrifícios. Sendo assim, vim embora. E foi o melhor que fiz. Hoje em dia, facilmente o longe se faz perto. Consegui sempre ir a casa frequentemente (e por vários dias), até os meus pais comentam que me vêem mais agora do que quando estava em Viseu. Financeiramente, nem se compara. Claro que é muito difícil. Só que passa por lá pode saber o quanto. Mas, a mim, compensou imenso (;
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