sábado, 27 de maio de 2017

Ainda o amigo rafeiro

Para terem uma melhor ideia do que estava a tentar explicar no outro post, vou relatar alguns dos acontecimentos com o Mike. Há coisas que eu acho extremamente normais e que qualquer pessoa pode e deve fazer quando está mais à vontade, nomeadamente:
- Olha, não tenho pão para amanhã de manhã porque me esqueci de comprar, dás-me um bocado?
- O meu sal acabou, posso usar o teu?
- Tens maionese?
Enfim, este género de coisas. Por muito que às vezes sejam sempre os mesmos a ceder as suas coisas, acho que não tem mal e é uma das coisas boas de se viver em comunidade. Aliás, às vezes cozinho com um rapaz lá da residência, e é muito na base de "olha, eu tenho isto e isto, tu tens aquilo, vamos cozinhar o prato X", ou "hoje cozinho eu, da próxima cozinhas tu". Funciona. É saudável. Mas voltando ao Mike...

Situação 1
Aqui há uns meses, eu estava a cozinhar algo com bacon e ele chega e diz com ar chateado:
- Se eu soubesse que tinhas bacon, tinha feito carbonara!
Oi?!?! Se tu soubesses que EU tinha bacon, TU partias do pressuposto que o podias usar?! Eu comprei-o para fazer algo específico que eu queria, mas tinha de to dar para tu fazeres o que tu querias. Ah, está certo. Onde está a tua noção? Não sei.

Situação 2
Esta situação é um acumular de muitas idênticas. Imaginem que estão morangos em cima da mesa. Ele começa a perguntar?
- Estes morangos são teus? De quem são estes morangos?
Se alguém disser "são meus", a resposta vai ser:
- Posso tirar?
Se ninguém responder, ele diz:
- Se não são de ninguém, vou comer na mesma.
Eu gostava de ver a reacção dele se ele chegasse à cozinha, onde tinha deixado a sua comida, e ver alguém a comê-la. A sério. Gostava.

Situação 3
Ontem à noite, eu estava a cozinhar e tinha numa frigideira cogumelos, pimentos e cebola. Ele chega e diz:
- Achas que me podes dar 1 ou 2 dos teus cogumelos?
- Desculpa, mas eu usei-os todos, não sabia que querias...
- Não, destes [da frigideira], posso tirar?
- Podes...
Eu disse que ele podia, mas eu estava com uma cara tão incrédula que não sei como é que ele não percebeu. Mais uma vez, onde está a noção do gajo? No idea. Pergunto-me se ele fará isto com outras pessoas, mas desconfio que não.

Situação 4
Esta situação são duas situações no mesmo dia. No dia anterior, ele perguntou se queria tomar o pequeno-almoço com ele e disse-me que não tinha pão. Eu disse que sim, para ele bater à porta do meu quarto, e que eu tinha pão mais do que suficiente para ele usar. Na manhã seguinte, torrámos 4 fatias de pão (duas para cada um), ele cozeu 2 ovos e eu pus nas minhas manteiga de amendoim, abacate e canela (não façam isto, eu segui certos conselhos e é nojento). De repente, ele começa a olhar para as minhas fatias com um ar de quem quer atacá-las (não estou a gozar) e diz:
- Parece delicioso!
Eu ignorei o comentário e o olhar, por isso ele tentou uma troca:
- Queres uma das minhas?
- Desculpa, mas não.
Ele limitou-se a comer o seu pão com ovo cozido. Passado um bocado:
- De quem são estes mirtilos?!
- São meus e eu ofereci-te, podes comer...
Mais uma vez, o que me chateou foi aquele ar de gula. God! Nesse mesmo dia, à noite, eu estava na cozinha com outra rapariga e perguntei-lhe se ela queria um pêssego. Ele apareceu, sabe-se lá de onde, e disse:
- Eu ouvi bem?? Disseste pêssego??
Oh. My. God. Sim, ouviste bem. Sim, eu dou-te a porcaria do pêssego. Mas e se parecesses menos desesperado?!

Situação 5 (e última)
Esta nem é uma situação, é a sua atitude que mais me chateia. Apesar de já a ter abordado, merece um ponto só para si, para realçar o quão é mau. Uma vez, uma senhora disse-me que a coisa que mais a chateava era ver crianças gulosas pelas coisas dos outros, que morria de horrores só de pensar que o filho dela poderia vir a ser assim. Com aquele olhar de gula em direcção ao que não é deles... E nem é por fome, porque isso é diferente. Eu não percebi... Hoje, graças ao Mike, já percebo. Imaginem uma pessoa que não para de olhar para o que vocês estão a cozinhar / comer, com ar de quem vai saltar e abocanhar aquilo tudo. É tão tão intenso, que te obriga a dizer "mas queres?" e a resposta nunca é não. E não é aquele cantinho para provar. É fazer uma refeição disso. Minha senhora, estou consigo. Vou criar os meus filhos para não serem assim.

3 comentários:

м disse...

É uma atitude incrivelmente feia. Se há coisa com a qual eu me sinto mesmo mal é pensar que há pessoas que passam fome ou pessoas que não têm comida quanto baste. Não sei, acho muito mau que querias comer e não tenhas. É daquelas coisas que me fazem mesmo mal à alma e sou incapaz de negar comida. Por isso mesmo, deixa-me também desconfortável esta situação em que as pessoas estão sempre a cobiçar a comida dos outros porque parece que nunca comem, logo desperta em mim aquela sensação de "coitadinho que não tem comida". Mesmo que eu saiba que é pura gula. Faz-me sentir mal. E é muito feio ter alguém que passa a vida a olhar para a comida dos outros com essa cobiça. São pessoas gulosas, que só querem o que é dos outros. Aposto que não compra comida dele ou compra muito pouco mas depois anda a comer a dos outros. É feio. Se não tiver dinheiro, é uma coisa. Agora só por cobiça, só porque o que é dos outros é melhor ou pq não quer gastar do dele...

Bonjour Marie disse...

Credo ! Acho que já o tinha mandado para um determinado sítio .

i. disse...

M, o problema não é de todo o dinheiro! Não só ele tem dinheiro para comprar comida, como compra coisas super fancy que eu nem sei o nome :P ahah. Aliás, já houve vezes em que ele me disse que estava mais à rasca, mas para comprar outras coisas, nunca comida.