sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Trago o Alentejo na voz


Nascida e criada no interior do Alentejo, portadora de um belo sotaque transitório (não demasiado carregado e que muda consoante o meu interlocutor), orgulho-me bastante das minhas raízes. Teve as suas desvantagens e limitações durante o meu crescimento, mas as vantagens são infinitas... Sou portuguesa, adoro a outra cidade que me acolheu durante os últimos anos, estou a adorar morar fora do nosso país, mas acima de tudo sou e sempre serei alentejana.
Com estas características, não é de estranhar que o cante alentejano sempre tenha feito parte da minha cultura. Como algo bastante enraizado, em que não se pensa muito... Em certos acontecimentos e festinhas, sabemos que os grupos corais vão actuar. E, o mais certo, é que com uns copitos de vinho, não sejam precisos profissionais. Cresci com as mais variadas modinhas, umas que toda a gente conhece de Norte a Sul (como a "Fui colher uma romã, a "Dá-me uma gotinha de água", e por aí fora), outras mais típicas cá da zona (como a "Quinta-feira de Ascensão", tornada célebre devido ao Zambujo).
Foi assim que acompanhei com surpresa e alegria a candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade e a respectiva atribuição. Claro que foi um orgulho, claro que nos deixou a todos de peito inchado. Ainda assim, confesso que o excesso de vaidade e de espalhafato que se gerou à volta do assunto às vezes irritava-me... Lamento.
Mas agora... Agora é diferente. Agora, esteja onde estiver, ouvir aquelas vozes traz arrepios e nostalgia. Mesmo que esteja em Portugal, com a iminência da partida... Já o sentia em Lisboa porque, afinal de contas, a nossa terra é a nossa terra. Mas agora... Agora é diferente.
Portugal é o país da saudade, com o fado como símbolo máximo. Mas digo-vos: o cante alentejano não lhe fica atrás. Às vezes, faz-me muito lembrar Alberto Caeiro e a sua vida no campo, devido às descrições... No entanto, muitas vezes também refere ao alentejano que tem de ir embora, mas que vai sempre ter saudade. Não que pondere voltar, mas o nosso Alentejo é o nosso Alentejo. Percebo que isto não faça o menor sentido para quem ouve de fora, mas acreditem: o sentimento está lá.
Parto amanhã (hoje). É a primeira vez que venho e volto. A primeira de muitas, espero. Não é fácil, voltei a relembrar-me da minha zona de conforto que estava bastante no fundo da memória... Ainda para mais, a beleza do meu Alentejo (e de Portugal no geral) não tem preço, mas tenho também todo um mundo lá fora... Ao qual eu quero pertencer.

1 comentário:

Joana disse...

Adoro o Alentejo, talvez porque tenha lá raízes. A minha família materna é alentejana e a minha avó, mesmo tendo abandonado o Alentejo há mais de 60 anos, ainda tem um sotaque alentejano. É uma delícia!