quarta-feira, 29 de março de 2017

Da discrição extrema

Há uma característica minha que está mesmo muito vincada: eu gosto de ser discreta. Não sei se sempre fui assim, mas é assim desde que me lembro... Não gosto de dar nas vistas, não gosto de ser o centro das atenções, nada. Claro que isto não significa que eu não quero deixar uma marca no mundo nem que não quero ser reconhecida pelo que faço, apenas tento tendência a sentir-me constrangida com isso... Além de que, com os meus, a coisa é diferente.
Possivelmente, certas pessoas vão ler isto e pensar "eu também sou assim", mas eu estou a falar de algo mesmo muito profundo. Algo que, por vezes, chega a ser um problema. É que isto torna-me snob para com as pessoas que me rodeiam. Se estou inserida num grupo em que há alguém que se ri muito alto, eu tenho tendência a olhar à volta para ver se alguém reparou. Se estou com pessoas que falam muito alto e não tenho confiança suficiente para pedir para falarem mais baixo, apetece-me meter num buraquinho. Snob, eu disse! Sou também uma pessoa que gosta que toda a gente em seu redor esteja bem, mesmo que eu não os conheça... Talvez por isso tenha esta "preocupação", a achar que estamos a incomodar pessoas que não têm de nos aturar.
Ora, eu cresci no meio de galinhas. Das verdadeiras, também, mas a maior de todas é a minha mãe. Ela dava a desculpa de ser professora e de estar habituada a falar alto... Uma ova. Já não dá aulas há uns quantos anos e continua igual. No carro é onde reparo mais... Estamos num ambiente fechado, sem grande ruído, não há necessidade de gritar - ela grita. Mas com ela tenho confiança para dizer "já estás a gritar", "não girtes" e outros que tais.
Como se não tivesse já galinhas suficientes na minha família, cheguei à faculdade e encontrei mais umas quantas. Quando nos juntamos todas a discutir... Ai, meu Deus. Até já eu gritava às vezes para me fazer ouvir! Ainda assim, há episódios hilariantes e vergonhosos, em que - mais uma vez - eu só me quis enfiar num buraquinho e não sair de lá enquanto as pessoas à nossa volta não fossem embora. É que discutir sobre ciganos aos altos berros em pleno sítio da moda com vista para Lisboa é toda uma cena que uma pessoa discreta como eu gostaria de evitar (claro que, agora, não trocaria esses momentos vergonhosos com as minhas amigas por nada, mas na altura não foi bem assim).
Esta característica é tão intrínseca à minha pessoa que, em momentos nos quais eu estava a milhares de km de distância, essas minhas amigas tiveram uma das famosas conversas aos berros, ao ponto de elas ficarem envergonhadas (imaginem há quanto tempo é que eu não o estaria...) e de comentarem "se estivesse aqui a i., ela não nos tinha deixado chegar a este ponto". Ser assim tem prós e contras... 
Eu até gosto de ser assim, discreta. Apenas gostava de ser um bocadinho menos, para não ser uma coisa que me faça ficar incomodada.

2 comentários:

м disse...

Também sou sempre aquela que se preocupa que os outros possam estar a ser incomodados por mim e pelos meus amigos. Não gosto de falar alto (embora o faça muito, em casa principalmente), não gosto de brincadeiras infantis que metam berros na rua, não quero que toda a gente olhe para nós e pense que estamos a ser desrespeitadores ou incómodos. É deselegante e de má educação. Não vejo isso como gostar de ser discreta (embora também o seja) mas sim ter bom-senso para saber diferenciar espaços privados e espaços públicos. Os outros não têm que me ouvir.

E. disse...

Preocupo-me se estou a incomodar os outros mas não deixo de "viver" como quero por causa disso. Se me apetece dar uma granda gargalhada dou, se me apetece ir a cantar aos berros no trânsito também vou. x

E. ♥ Meet me for Breakfast